Títulos atrelados à inflação e o impacto da curva de juros
Você já parou para pensar que até o investimento mais conservador pode ter ganhos negativos? Isso acontece quando o ganho nominal é menor do que a inflação. Proteger o seu portfólio e considerar a variação da inflação é muito importante.
Podemos explicar essa afirmação por dois fatores.
Em primeiro lugar, historicamente, produtos atrelados à inflação foram mais rentáveis do que o CDI.
De acordo com uma base extraída do Quantum, nos últimos 11 anos, o IMA-B bateu a performance do CDI em 10 anos. O IMA-B é um índice que mede a performance média dos títulos públicos atrelados ao IPCA (Tesouro IPCA+ ou NTN-B).
Em segundo lugar, em um cenário de Selic baixa e inflação acima dela, é importante uma proteção para garantir o seu ganho real. Ou seja, o seu poder de compra.
Mas como funciona a precificação desses títulos? Como eles são compostos? Será que o investidor tem risco de perder em um título como esse?
Para entender essas questões, vamos começar explicando como esses títulos são formados.
Quais são os componentes da remuneração?
São a soma da inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), e uma taxa pré-fixada (juro real).
Como entender a forma de remuneração desses títulos?
O retorno desses ativos pode ser impactado por dois fatores: pela remuneração contratada (ex.: IPCA + 4%) e pela marcação a mercado.
1. Retorno do ativo de acordo com a taxa contratada:
Diariamente, o título entrega a variação do IPCA + a taxa contratada. Alguns ativos poderão lhe pagar o rendimento da taxa pré-fixada semestralmente, anualmente etc.
Caso você carregue o papel até o vencimento, esse será o retorno obtido pelo investimento. Nesse caso, você sabe exatamente qual será seu ganho real (além da inflação).
2. Marcação a mercado no momento da venda antecipada do ativo:
A marcação a mercado é um evento que reflete as condições de mercado em um dado momento. A representação gráfica da remuneração dos títulos para diferentes prazos é o que chamamos de curva de juros. Essa curva basicamente reflete as expectativas do mercado para a Selic para diversos horizontes. No caso da curva IPCA, a projeção da Selic já é descontada da projeção de inflação.
A parte curta da curva de juros (remuneração dos títulos mais curtos) é afetada pelo que o mercado espera que o Banco Central fará com a Selic nas próximas reuniões. Ou seja, quedas esperadas na Selic entregam um ganho positivo, e altas nas expectativas da taxa básica de juros podem impactar negativamente a curva e, então, entregarem ganhos negativos temporariamente.
Já a parte longa da curva de juros (remuneração dos títulos mais longos) depende de diversos fatores. Na prática, não é uma tarefa muito trivial projetar a Selic para os próximos 10 ou 15 anos. Por isso, o mercado incorpora um prêmio de risco na remuneração desses ativos. Alguns dos fatores que impactam a parte longa da curva são o risco fiscal, risco político e os juros longos em economias desenvolvidas (ex. EUA). A parte mecânica da precificação é a mesma. Quando as taxas de mercado caem, os títulos se valorizam e vice-versa.
Veja dois exemplos práticos da precificação desses títulos com o efeito da marcação a mercado:
Exemplo 01:
Vamos supor que você tenha comprado uma NTNB a IPCA + 4,5% a.a. com vencimento daqui a 15 anos. Pouco tempo depois é aprovada uma reforma que irá contribuir para a redução dos gastos do governo. Esse impacto é positivo. Logo, a percepção de risco diminui, e com ela a taxa ofertada pelo título. Hoje, o mesmo título pode ser adquirido à taxa de IPCA + 3% a.a., e você permanece com a sua NTN-B a IPCA + 4,5% a.a. O seu título vai, então, valer mais do que os outros, caso você venda antes do vencimento. Logo, haverá um impacto positivo da marcação a mercado.
Exemplo 02:
Título prefixado que paga R$ 1.000 no vencimento, tem prazo de 1 ano e taxa de 10% ao ano, o preço desse título hoje é de R$ 909. O Cálculo é:
Valor presente = Valor futuro / (1+ taxa)^prazo
R$ 1.000 / (1+ 10%)^1 = R$ 909
Se a taxa do título por qualquer motivo diminuir para 6% ao ano, o título de hoje até o vencimento renderá 6% ao ano – e não 10% ao ano.
Mas o que acontece com o meu dinheiro? Simples: seu título vai valorizar um certo montante para que o retorno esperado até o vencimento seja de 6%! Essa valorização (ganho de capital) é o que chamamos de ágio.
Valor presente = Valor futuro / (1+ taxa)^prazo
R$ 1.000 / (1+ 6%)^1 = R$ 943 (preço novo)
O ágio aqui será dado por:
Preço novo (tx. 6%) – preço original (tx. 10%) / preço original (tx. 10%)
(R$ 943 – R$ 909) / R$ 909
= 3,8%
Ou seja, a diferença entre o preço novo e o preço original é trazida a valor presente e seu título se valoriza!
Quando as taxas de mercado aumentam, o efeito é exatamente o contrário. Seu título desvaloriza hoje e renderá mais até o vencimento. A nova taxa do título será dada pela taxa de mercado – e não pela taxa de compra. Outro ponto importante: quanto maior o prazo do título, maior será o efeito de uma variação de taxa sobre seu preço.
Qual a vantagem de investir em inflação?
Para responder a esta pergunta listamos não apenas uma vantagem, mas uma lista delas. Veja a seguir quais o benefícios de investir em inflação.
- Proteção patrimonial.
- Ganho real, ou seja, ganho corrigido pela inflação.
- Isenção de IR para alguns papéis incentivados no mercado, como as debêntures incentivadas para PF.
- Spread de crédito, ou seja, prêmio de risco em títulos de emissão privada.
- Possibilidade de ágio no resgate antecipado, conforme marcação a mercado.
- Diversificação do portfólio.
- Possibilidade de liquidez para determinados papéis.
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Fonte: BTG Pactual
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